Câmara Municipal de Varginha
Em 1882, as ferrovias brasileiras são implantadas, principalmente em Minas, Rio e São Paulo. Poucos anos depois, a Família Imperial se desloca para o Sul de Minas, a fim de inaugurar o ramal Cruzeiro/Três Corações. O Brasil vive sob o reinado de Dom Pedro II. Varginha alcança sua emancipação e tem dezesseis armarinhos, quatro advogados, vinte e uma vendas e quatro alfaiates. Major Matheus Tavares da Silva, homem poderoso, um dos primeiros plantadores de café, dono de muitos escravos e primeiro presidente da Câmara Municipal (cargo correspondente ao de prefeito nos dias atuais) inicia a construção do segundo prédio da cidade, com platibanda, na esquina da Travessa da Estação (atual rua Presidente Álvaro Costa) e Largo da Matriz (atual praça Governador Valadares). O comentário era geral na cidade e virou ponto de encontro de muita gente para acompanhar a construção tijolo por tijolo. A obra teria dois andares, muitas janelas (símbolo de status) e seria empregado na casa o melhor material, tudo transportado por carroças que chegavam de toda parte. O café, como maior fonte de riqueza, desde 1885, é que teve fator determinante da ocupação e arquiteturas locais. Esta descreve a própria história regional do café, através de seus sóbrios casarões ajanelados, com grossas madeiras, pé direito e varandas com suportes de ferro.
Em 1892, é criada a comarca de Varginha. A Estrada de Ferro Muzambinho chega à cidade contribuindo para acelerar o seu desenvolvimento.
Em 1905, o Major Matheus Tavares da Silva falece. Seu corpo foi velado na mesma casa que construíra e onde recebe todas as honras do município. Nesse mesmo ano, o empresário Roque Rotundo adquire o casarão, reformando-o e instalando uma loja de tecidos, aviamentos e perfumaria francesa na parte de baixo e residência, no andar superior. Passados alguns anos, manda construir uma sacada. Em 1933, chega da Itália seu primo José Rotundo com treze anos, que ainda hoje se lembra, que acompanhava dessa sacada junto com toda a família a Semana Santa, os sermões dos padres, as comemorações do fim da Segunda Guerra mundial, os discursos políticos, enfim, todos os acontecimentos importantes da cidade.
Roque Rotundo era líder da colônia italiana. Ajudava os conterrâneos na administração de seus bens, inclusive fazendo depósitos e retiradas no Banco do Brasil. Em contrapartida, os trabalhadores faziam todas as compras na Casa Rotundo. Em 1945, Roque Rotundo morre. A empresa Rotundo & Cia Ltda prossegue suas atividades, ampliando opções, ganhando novos sócios e passando a vender também brinquedos, antes encontrados apenas em outra loja, a do Sr. Humberto Conde. Em 1952, Miguel de Luca um dos sócios, sai da sociedade da Casa Rotundo. No seu Lugar entra Odorico Venga e depois, Ronaldo Venga. A empresa funciona no local até meados de 1960, quando se transfere para a rua Presidente Antônio Carlos, ao abrir uma outra loja: A Moderna. No casarão, permanece até falecer, D. Maria Conde Rotundo, esposa do Sr. Roque Rotundo, passando depois a funcionar na.parte de cima, a pensão do Sr. Antônio Caiafa. O casarão é então adquirido pela Cooperativa dos Cafeicultores, por 5 milhões de cruzeiros, dinheiro da época. É instalada uma bomba de gasolina na frente do prédio, destinada a abastecer os veículos de seus associados. Em 1993, após longo período em desuso, já que a Cooperativa havia sido transferida para o bairro Vila Paiva, as paredes, salas e teto do casarão ameaçam ruir ou incendiar. O casarão mais antigo de Varginha está prestes a desaparecer. Numa decisão respaldada pela população, interessada em preservar a história da cidade, a administração municipal resolve adquirí-lo.
No dia 12 de junho de 1995, começam os trabalhos de recuperação do imóvel, após amplo estudo da linha arquitetônica original, que envolveu pesquisas fotográficas, consultas a pessoas que freqüentaram o prédio no início e meados do século, inclusive estudos feitos por engenheiros e decoradores. A parte exterior do prédio tem suas linhas arquitetônicas originais preservadas. O interior é modernizado, por dois motivos: primeiro porque as condições em que se encontrava não possibilitavam recuperá-lo; segundo porque passaria a garantir maior funcionalidade para prestação de serviços à população. O casarão ganha a denominação de "Casa da Cidade". No dia 7 de dezembro de 1996 é entregue à população, numa comemoração onde vários segmentos da sociedade estiveram presentes. O prédio permanece fechado por quatro meses. Preocupado com as conseqüências da falta de uso do imóvel, já que poderia expor aquela construção a um novo período de deterioração, a Câmara Municipal aceita proposta do prefeito António Silva de lá se instalar, no dia 28 de abril de 1997. A partir desta data, todas as segundas e quartas-feiras a Casa da Cidade é ponto de reunião dos representantes do povo.
Bibliografia:
- Livro: "Varginha, sua História e sua Gente". Elaboração: Câmara Municipal de Varginha. Edição : 1982. Págs: 05 à 16
- Jornal: Hoje em Dia - Edição de 7 de outubro de 1996 PÁG. 08
- Informativo Interno da Câmara Municipal de Varginha N° l - 28/ 04 /97
Entrevistados:
-Sr. Nico Vidal - novembro de 1999
-Sr. José Rotundo- novembro de 1999
Informe Arquitetônico da Casa da Cidade
A Casa da Cidade foi construída em 1882. Era uma construção de dois pavimentos de estilo eclético, mesclando o Neo-Clássico, Colonial e Art-Decô.
A obra foi feita em alvenaria, tendo o primeiro piso frisado horizontalmente imitando pedra,característica do Neo-Clássico. O segundo piso com uma sequência de porta vidraça cujas almofadas eram de vidro que giravam para dentro e portas venezianas que giravam para fora. As portas e janelas eram requadradas com molduras em massa e sobre as portas vidraças; encontramos, também, relevo em massa.
A estrutura para receber o segundo piso foi feita em barrote tendo o assoalho em tábua corrida. O telhado com estrutura em madeira era composto por quatro águas, característica do Colonial, com telhas de barro tipo francesa. O telhado era escondido por platibanda com balustrada industrializada, tendo na parte frontal um adorno definindo a simetria do prédio, tudo isso fazia um coroamento da edificação. Apesar da construção ser feita de tijolo usava a técnica de pau a pique, que é repetitiva, ou seja, modulada com forma retangular. A implantação do prédio se dá junto ao alinhamento da calçada, numa esquina de grande importância, de frente ao Largo da Matriz e na lateral a rua que dá acesso à Estação Ferroviária, situada no espigão principal do município. No ano de 1905, o prédio foi vendido ao Sr. Roque Rotundo, que efetuou reformas. A reforma foi uma adaptação do Neo-Clássico na Província.
Foi construído um balcão em balanço, sustentado por modilhão, possuíndo guarda-corpo com balaustre industrializado. A platibanda foi retirada e no seu lugar colocou-se um beiral no qual encontrava-se a cachorrada ou cachorros, que são peças de madeira em balanço apoiadas no freichal, para sustentar o beiral do telhado. Na junção das paredes externas foram construídas pilastras Neo-Clássicas, cujo capitel estilizado é de ordem coríntio, com fuste canelado nos ângulos de encontro, com função ornamental. As esquadrias do segundo piso foram substituídas por janelas venezianas envidraçadas, ficando somente portas vidraças que dão acesso ao balcão. Continuam as molduras em massa enquadrando as esquadrias, dividindo e definindo o primeiro piso do segundo. O acesso ao piso superior era feito por escada em madeira toda trabalhada. Com o advento da industrialização e a influência da imigração italiana, as técnicas foram trazidas pelos mestres de obras do primeiro mundo que se sobressaíam na ornamentação das fachadas. As esquadrias do primeiro pavimento possuíam bandeiras e anteparo de proteção ( grade) de ferro forjado, com influência art-decó. O forro era de saia e camisa e o piso dos dois pavimentos era o assoalho de tábua corrida. O telhado continuava o mesmo, com quatro águas acrescentando calhas com condutores, produto da industrialização.
A parte inferior do prédio funcionou como ponto comercial e a parte superior como residência. O comércio nesse tempo foi motivado e ganhou uma nova força trazida pela linha férrea Muzambinho (oo Minas - Rio), que proporcionava um intercâmbio de idéias e produtos. A composição simétrica das fachadas feita pelas janelas e portas sempre em módulo de três e em grande número, representava o poderio dos barões do café. Em 1995 o poder público inicia os trabalhos de recuperação do imóvel, tentando reproduzir a linha arquitetônica da fachada após a reforma occorrida em 1905. A parte externa do prédio foi recuperada e a parte interna reformada para receber outros usos que não de residencial e comercial. Internamente, foram empregados materiais e técnicas modernas, aliadas a técnica antiga, como o caso do forro saia e camisa. As esquadrias foram confeccionadas nos moldes do original, sendo as portas externas almofadadas. Estas modificações ocorreram devido à falta de condições de recuperação da estrutura em madeira comprometida pelos cupins. O calçamento externo foi feito de concreto increte com desenho imitando pedra/nas cores preto e branco. Foi colocada iluminação nessa calçada a fim de destacar o edifício que hoje, ocupado pela Câmara de Vereadores, define um dos poderes dominantes do município.
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