Gabriel Mono-Mic
Gostaria de começar a falar da minha trajetória na música de uma forma mais poética, mas começarei de uma forma mais infantil, pois foi nessa fase da vida que conheci o hip-hop.
Nasci Gabriel Douglas Barreiros, no dia 11 de fevereiro de 1977 na cidade de Três Corações, Minas Gerais. Cresci nas ruas do "Jão", (Bairro São João), um bairro de trabalhadores na zona oeste de Pouso Alegre City, também em Minas.
A primeira vez que ouvi um Rap na minha vida, eram idos de 89/90, um parceiro meu (o "Pelé" que não era Arantes do Nascimento), me emprestou uma fita K7, eu ouvi o som daqueles caras de ponta a ponta. Aquilo era tudo muito louco e muito novo pra mim, era tudo que um moleque periférico queria ouvir, queria falar, mas ele não tinha voz, a juventude periférica não era representada na música brasileira. O nome do disco ou fita que havia de mudar a minha vida era "O Holocausto Urbano" dos Racionais MC's. Quando fui devolver a fita pro meu mano (Pelé), depois de ter tirado uma cópia, ele me falou: "-Aí "Branco" se você quiser tem mais umas coisas aqui!" Eu que era um moleque branco, frequentador da biblioteca, morava num bairro de maioria negra, que havia se encontrado no Rap, não iria recusar.
Nessa nova leva de fita K7, veio uma dupla que se chamavam "Thaíde & DJ Hum", a música mais "loka" da dupla era "Corpo fechado", mas a que me chamou atenção, era uma que rimava assim: "Se eles são os tais eu quero ser também/ Ser mal educado e não respeitar ninguém"... Falava sobre a repressão Policial, pra um moleque periférico que já havia tomado enquadro da Polícia, com chute no tornozelo e tudo, a rima caia como uma luva. Pensei comigo, "Espera aí, eu também tenho algo a dizer".
Por volta de 91 comecei a frequentar a União Operária, um clube onde se reunia a juventude negra da cidade, raramente frequentado por brancos como eu. Na União Operária surgiu a ideia de criarmos um grupo de dança, batizado nas ruas do "Jão" como "Os Discípulos do Rap", na época uma das maiores expressões na dança da cidade, mas muito discriminado, pois nesse tempo Rap era considerado música de ladrão.
Em 94 nossa necessidade de expressão artística passa não só pelo corpo, mas também pela fala, o grupo passa por uma metamorfose e "Os Discípulos do Rap", passam a se chamar "Coligados MC's", onde a poesia entra em cena.
Já em 95, não queria mais ser coadjuvante, queria mais radicalidade e fundei o grupo "PM Gangster" e minha primeira escrita solo (pois antes só compunha coletivamente) mandei assim: "PM quer dizer Profissão Marginal/ Mas não nos leve a mal/ Somente pelo nosso nome ser radical/ somos um grupo consciente, racional..."
Em 96 dei um tempo, Exército e Casamento são duas coisas pesadas na vida de um protótipo de homem. Você pode deixar a poesia de lado, mas ela é involuntária, eu segurava um fuzil 7.6.2 no quartel pensando em ritmo e poesia.
Não aguentei e em 99 voltei, me alto intitulei Hummanno e fundei o Hu-A, (Hu-manidade A-tivista). No final do ano 2000, gravamos uma DEMO, eu e o DJ Maestro (pra muitos DJ Paçoca), batemos nas portas de várias gravadoras de São Paulo. A Zâmbia Fonográfica, (gravadora que revelou Racionais MC's, Negritude Jr, Sensação, MV Bill e etc...), depois de escutar a nossa música, resolveu fazer uma parceria e em 2002 lançamos o Disco com oito faixas, intitulando o nosso nome "Hu-A (Hu-manidade A-tivista)". Com uma proposta muito radical pra época, baseava-se na expropriação da produção autoral, para produzirmos nossas bases musicais, as produções musicais eram muito caras, inviável para nós e como a gravadora só bancava a prensagem do CD nós fundamos a "Conspiração Roubase", que se baseava na ideia de expropriação do MST (Movimento dos Sem Terra), uma produtora que roubava as bases musicais americanas pra mandar outra letra em cima. O Hu-A fez vários show's expressivos na região do Sul de Minas junto com Racionais, RZO, Faces da Morte, Realidade Cruel, Zona Proibida entre outros. Por volta de 2005 as atividades do Hu-A se encerraram.
Continuei minha caminhada solo como Hummanno e em 2006, João Paulo Nascimento, William Alexandre "Crespo" e eu, juntamos nossos projetos e demos a ele o nome de "Projeto Trilhos". Nós tínhamos uma preocupação com a arte musical no cenário do Rap Nacional, onde cada região do país se identificava com um estilo específico, quando surgiu a pergunta: "E nós de Minas vamos misturar Rap com o quê?" A ficha caiu e o lance era misturar Rap com MPB Mineira. Foi um período magistral pra mim, pois cresci artisticamente. Gravamos parte do trabalho na casa do "Jão", (João Paulo Nascimento) e juntamos com o que havíamos gravado em estúdio, lançamos no MySpace, www.myspace.com/projetotrilhos . Tocamos em vários festivais na cidade de Pouso Alegre, tocamos no Espaço Musical (em São Paulo), abrimos um show do GOG aqui em P.A. City para umas 5 mil pessoas. O "Projeto Trilhos" ainda é uma conversa inacabada que pode voltar a qualquer momento.
Mas como eu já disse, a poesia é um músculo involuntário e eu preciso seguir em frente. Hoje me recriei com o nome de Gabriel Mono-Mic; Gabriel, porque esse foi o nome que minha mãe escolheu se eu nascesse vivo, depois de complicações na gravidez e no parto; Gabriel porque é o nome de um Anjo Guerreiro e Menssageiro, como sou. Mono, no sentido de unidade e Mic ("maiki"), de Microfone. Aqui das ruas do "Jão" de Pouso Alegre City quem vos fala é o Pequeno Gabriel no Microfone. Vida longa ao Ritmo e a Poesia!
(Gabriel Mono-Mic)
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